sexta-feira, 8 de junho de 2007

Compre Batom

Era mais uma tarde qualquer em que ela saia de casa para a faculdade. Mochila nas costas e aquela pasta A3 cheia de desenhos e pinturas em nanquim. Pensava provavelmente no que poderia pintar se a professora encomendasse mais uma pintura em pontilhismo. E seguia mergulhada naqueles pensamentos de estudante no começo da faculdade.

Ela nem via direito o que se passava ao redor (era distraida até demais, a menina) e foi exatamente por isso que se assustou tanto.

Mendiga: Ô menina, dá teu batom!

Menina: O que?!

Mendiga: Teu batom. Esse que tá na tua boca! Eu quero ele agora.

Menina: Mas que batom?!

Mendiga: Esse aí que cê tá usando...

Menina: Mas não é batom. É minha boca. Ela é assim mesmo.

Mendiga: Vermelha desse jeito?! Sem batom?

Menina (esfregando os lábios): É sim, olha! Minha boca é vermelha mesmo...

Mendiga (intercalando olhares surpresos entre a boca e a mão branca da estudante): Valei-me, nossa senhora! Tua boca é bem vermelhinha mesmo.

A velha não se conteve e se precipitou para esfregar os lábios da menina com os dedos.

Mendiga: Que boca linda você tem! Parabens, viu? Cê faz alguma coisa pra ela ficar assim?

Menina (assustadíssima, quase petrificada): Não. Ela é assim desde que eu nasci...

Mendiga: Parabéns.

Menina: Brigada.

E o ônibus chega ao ponto. Por um segundo, a estudante pensou em deixar o ônibus ir: assim ela poderia voltar para casa, lavar a boca com seu sabonete. Mas se o fizesse, ela se atrasaria para a aula. Decidiu subir no ônibus: lavaria a boca ao chegar na faculdade. Sim, aquela era de fato era a opção mais nojenta, entretanto naquele tempo, a menina ainda era empolgada com a possível futura profissão, responsável e pontual.

domingo, 3 de junho de 2007

Como Mamãe já Dizia - questões existenciais


Um post seqüencial. Falei que escreveria sobre os ditos hispanicos de mi madrezita e aqui estou cumprindo a promessa. Como já mandei as frases do meu pai nas questões profissionais, aqui mando as da minha mãe no que concerne aos relacionamentos interpessoais (em geral). Entonces empiezemos.
  • "Entre el dicho y el hecho dicta mucho trecho": sabedoria popular boliviana. Acho que não tem equivalente em português. Tem?

  • "Aunque se vista de seda como macaco se queda": essa máxima quer dizer que estilo é tudo. Então pára de dar pinta, wanna-be-bee.

  • "Has lo que te de la santissima gana": um "whatever" hispanohablante e mais prolixo. ADORO.

  • "Tu eres muy sin gracia": o que tem de gente chata por aí...

  • "Es que el cojo hecha la culpa al empedrado": outro dito popular boli. Fala sobre terceirizar a culpa. E o mais impressionante é que mesmo quem critica essas coisas anda sempre hechando la culpa de su cojera al empedrado.

Bueno... that's all, folks. Se eu lembrar de outra, retomo o post.


quarta-feira, 30 de maio de 2007

Como meu Pai já Dizia - Questões Trabalhistas


Caí de paraquedas no mundo dos adultos. As vezes é (bem) chato mas na média dá pra levar. E o melhor de tudo é que agora eu já ganhei maturidade o suficiente para entender alguns ditos do meu sabio papai sobre o mundo do trabalho e suas relações. Citarei aqui a algumas pérolas:
  • "Quem trabalha demais não tem tempo pra ganhar dinheiro": constatei empiricamente que é verdade.

  • "Presta não" (leia-se com sotaque nordestino. Mas aquele sotaque de verdade, não aquela coisa estranha das novelas da Globo): é um jargão dele. Decidi adotá-lo como lema de vida. Se o negócio vai dar merda, é melhor pular fora o quanto antes. Evita o stress e a fadiga, exaustivamente já citada pelo carteiro Jaiminho.

  • "Dinheiro não é problema. Problema é a falta dele": todo mundo sabe disso. Mas não custa repetir. Existe também a variante "dinheiro não é problema, é solução". Entretanto a versão de papai é mais estilosinha.

  • "Por mais que você esteja certa, não conteste um doido, não..." (também leia com sotaque nordestino): mandar falar com a mão é a melhor solução. Assim como usar toda a retórica possíveis para convencer os outros. Ser direto e sincero demais costuma ser interpretado como agressividade. É outra constatação empírica.

  • "Esse negócio de não ter tempo não existe não": sempre achei que falta de tempo fosse coisa subjetiva. Agora eu tenho certeza disso.

Por hora lembrei desses. Mas quando lembrar de outras pérolas da sabedoria paternal, postarei. E depois vou dedicar também um post aos (fantásticos) jargões hispanicos de mi mamá. Gente grande não é tão chata assim, sabia? De vez enquando eles são muito divertidos, até.

domingo, 20 de maio de 2007

As Rixas Alheias

Um pequeno protesto contra os absurdos cotidianos

Eu tenho a teoria de que toda loira nariguda parece com minha amiga Flor: de Suzane Von Richtofen a Barbara Streisand. Acontece que a Luana Piovani não é nariguda. E é realmente loira, não tem cabelo castanho claro, avermelhado, meio loiro, meio burro-quando-foge como o da Flor.

Enfim, ela não parece com a Piovani. Agora avalie você o quão bêbado estava um homem que pensou que a menina REALMENTE fosse atriz. Seria engraçadíssimo, se o tal bêbado não fosse um fã fervoroso do Caetano Veloso, a quem a moça chamou recentemente de "Banana de Pijama".

Contemos o causo. Estavam Flor e um amigo num dos bares da Roosevelt quando o bêbado apareceu. Berrando, tentando arranjar briga com qualquer um e o tempo todo olhando para ela. E depois de um tempo, ele realmente estava assustando minha amiga, que não se acalmava nem com as garantias de segurança do amigo.

Bêbado: Você não acha o Caetano Veloso demais?

Ela responde que que sim, mexendo a cabeça.

Bebado: O Caetano é foda. Ele não come qualquer uma, não, sabia? Você soube da música? Luana Piovani... que porra de Luma Piovani porra nenhuma...

E caiu numa gargalhada convulsiva. Aliás nesse momento, o bêbado quase caiu literalmente.

Depois de se apoiar na parede e recuperar o equilíbrio, o bêbado se apoia na mesa e tenta pegar a latinha de Guaraná que Flor bebia.

Bêbado: Que é isso?

Amigo da Flor: Tira a mão daí.

Bêbado: Você, menina, é uma vagabunda. É isso que você é: uma pu-ti-nha. Caetano é foda! Ele não faria música nenhuma pra uma atrizinha de merda. Ele... ele ficava com todo mundo antigamente. Ele já amou o Zé Celso. O Zé Celso não é foda?!

Flor (com voz quase sumida e coração quase saindo pela boca): Am... aham.

E o bebum apontava o dedo para a cara da menina. Enquanto isso, o amigo da Flor fazia, com as mãos, uma barreira entre ela e o bêbado.

Bêbado: O Caetano era um tarado. Pra ele comer uma mulher, tinha que ser uma mulher fodona. Ele amava o Zé Celso. E uma atrizinha de merda da Globo não trabalha com o Zé Celso. O Caetano escreveu música pro Zé Celso. Mas porque ele é bom. Não é uma vagabundinha larga aí, não.

E Bate na mesa. A essas alturas, Flor já estava completamente murcha. Quase virando adubo. E eis que o bêbado tenta partir para cima dela. Mas apenas tenta, porque o heróico amigo de flor levanta e usa uma voz um tanto quanto incisiva ao pedir ao bêbado que se retirasse.

Mas o bêbado continua falando todo tipo de coisa sobre a vida sexual do Caetano Veloso, Zé Celso, Gilberto Gil, toda a galera da tropicália e da Contracultura brasileira. E também continuava supondo muita coisa a respeito da vida sexual e profissional da Luana Piovani.

Então eis que ele sai do bar, espantado pelo amigo de Flor. Quase chorando, quase caindo mas ainda xingando.

Bêbado: Sua vagabunda! Você tem sorte que eu sou um covarde e não vou te dar o que você merece por causa desse cara...

Depois falou algo tão enrolado que não foi possível inteligir. Mas foi embora.

Amigo da Flor: Não acredito que encostei nesse cara! Preciso lavar as mãos. Como ele fedia, meu!

Flor: Fedia, tinha bafo e quase me mata de medo!

Depois disso, ainda foi possível ouvir o bêbado cantando "Catia Flávia" pelas ruas...

domingo, 1 de abril de 2007

Surdez

Eu (cantando): "Sou um vento norte-americano forte, com um brinco de ouro na oreeeelha"...

Minha irmã: Oxe, bicha doida! É "negro", e não "vento".

Eu: Não é! É vento!

Minha irmã: Mas é teimosa... põe o cd e ouve.

E a música começa. A letra diz (Sr. Google garantiu):

"Eu sou o preto norte-americano forte com um brinco de ouro na orelha"

Minha irmã: Tá vendo?!
Eu: Tô. É "vento"
Minha irmã: Mas é teimosa... é "NEGRO".

Sr. Google me fez concluir que eu e minha irmã estamos meio surdas.

domingo, 25 de março de 2007

Sobre o Grão de Bico

Especialistas em agrobusiness deram para falar que o futuro da economia está na soja. Bobinhos. Eu falo: o futuro não está na soja, mas no grão de bico. É tudo uma questão de tempo. Até porque a moderníssima tecnologia em genética vegetal ainda pode turbinar essa comidinha tão gostosa e que (pasme!) proporciona uma grande sensação de bem-estar. É... os entusiastas da culinária do Oriente Médio já sabiam que depois de um belo sanduíche de falafel e algumas pitas com homus todo mundo fica rindo a toa. Muito inocentes, eles sempre acham que comeram demais e estão meio "bêbados por excesso de comida". Não é nada disso: grão de bico (e sobretudo o homus) dá baratinho mesmo. É científico!

A equipe do Dr. Zohar Keren, especialista em alimentação e do botânico Simja Lev Idon, chefe do curso de botânica da Universidade de Jerusalém garantiu que é verdade! Eles comprovaram que o grão de bico contém um aminoácido conhecido como triptofeno que, em grandes quantidades, é capaz de produzir serotonida. É aí que mora a felicidade: esse tal aminoácido e a famosa serotonina são os ingredientes básicos do Prozac. É daí que vem a sensação de calma e felicidade que os adoradores do falafel com tahina e pita com homus sempre sentem.

Agora uma boa notícia para as boas moças casamenteiras e loucas por crianças: um bom prato de homus contribui para a ovulação e assim facilita a gravidez! Assim disse o dr. Abi Gofer, arqueólogo (!!!!!!!!) que fez parte da pesquisa. Então já dá para pôr aquele Santo Antônio na sua posição normal, jogar fora o cartãozinho de Santo Expedito, dispensar a brachá do rabino e o banho na mikve com a rabanit, bem como desmarcar aquele médico. É só correr para o restaurante árabe mais próximo e enfiar o pé na jaca. Um dia ainda vão inventar um pró-concepcional com insumo baseado no grão de bico. I tell you this.

Mas voltemos ao futuro da economia mundial. O grão de bico gera milhões de dólares nos países onde é largamente consumido. E, dizem as más línguas, que a espécie cultivada possui mais serotonina que a selvagem. Fantástico, não? A solução para os problemas do grandes produtores mundiais de commodities está na sugestão do professor Gofer: turbinar o grão de bico com mais serotonina. Aumentaria as vendas em bilhões. Quiçá isso poderia até ser a solução dos dependentes de anti-depressivos e drogas em geral, não? Ah sim... e o tal pró-concepcional que eu imaginei também movimentaria bastante dinheiro para a indústria farmacêutica.

Talvez resida no grão de bico até mesmo a solução para os problemas políticos do Oriente Médio. Afinal... gente nervosinha esses árabes e esses israelenses, não?! Deve ser tudo culpa da assimilação. O pessoal quer adotar um american-or-european way of life e assim abandona o consumo de comidinha tão gostosa e tradicional como o homus, receita que figura no cardápio regional há mais de 10 mil anos. Antigo, não?