Era mais uma tarde qualquer em que ela saia de casa para a faculdade. Mochila nas costas e aquela pasta A3 cheia de desenhos e pinturas em nanquim. Pensava provavelmente no que poderia pintar se a professora encomendasse mais uma pintura em pontilhismo. E seguia mergulhada naqueles pensamentos de estudante no começo da faculdade. Ela nem via direito o que se passava ao redor (era distraida até demais, a menina) e foi exatamente por isso que se assustou tanto. Mendiga: Ô menina, dá teu batom! Menina: O que?! Mendiga: Teu batom. Esse que tá na tua boca! Eu quero ele agora. Menina: Mas que batom?! Mendiga: Esse aí que cê tá usando... Menina: Mas não é batom. É minha boca. Ela é assim mesmo. Mendiga: Vermelha desse jeito?! Sem batom? Menina (esfregando os lábios): É sim, olha! Minha boca é vermelha mesmo... Mendiga (intercalando olhares surpresos entre a boca e a mão branca da estudante): Valei-me, nossa senhora! Tua boca é bem vermelhinha mesmo. A velha não se conteve e se precipitou para esfregar os lábios da menina com os dedos. Mendiga: Que boca linda você tem! Parabens, viu? Cê faz alguma coisa pra ela ficar assim? Menina (assustadíssima, quase petrificada): Não. Ela é assim desde que eu nasci... Mendiga: Parabéns. Menina: Brigada. E o ônibus chega ao ponto. Por um segundo, a estudante pensou em deixar o ônibus ir: assim ela poderia voltar para casa, lavar a boca com seu sabonete. Mas se o fizesse, ela se atrasaria para a aula. Decidiu subir no ônibus: lavaria a boca ao chegar na faculdade. Sim, aquela era de fato era a opção mais nojenta, entretanto naquele tempo, a menina ainda era empolgada com a possível futura profissão, responsável e pontual. |
sexta-feira, 8 de junho de 2007
Compre Batom
domingo, 3 de junho de 2007
Como Mamãe já Dizia - questões existenciais
Um post seqüencial. Falei que escreveria sobre os ditos hispanicos de mi madrezita e aqui estou cumprindo a promessa. Como já mandei as frases do meu pai nas questões profissionais, aqui mando as da minha mãe no que concerne aos relacionamentos interpessoais (em geral). Entonces empiezemos.
Bueno... that's all, folks. Se eu lembrar de outra, retomo o post. |
quarta-feira, 30 de maio de 2007
Como meu Pai já Dizia - Questões Trabalhistas
- "Quem trabalha demais não tem tempo pra ganhar dinheiro": constatei empiricamente que é verdade.
- "Presta não" (leia-se com sotaque nordestino. Mas aquele sotaque de verdade, não aquela coisa estranha das novelas da Globo): é um jargão dele. Decidi adotá-lo como lema de vida. Se o negócio vai dar merda, é melhor pular fora o quanto antes. Evita o stress e a fadiga, exaustivamente já citada pelo carteiro Jaiminho.
- "Dinheiro não é problema. Problema é a falta dele": todo mundo sabe disso. Mas não custa repetir. Existe também a variante "dinheiro não é problema, é solução". Entretanto a versão de papai é mais estilosinha.
- "Por mais que você esteja certa, não conteste um doido, não..." (também leia com sotaque nordestino): mandar falar com a mão é a melhor solução. Assim como usar toda a retórica possíveis para convencer os outros. Ser direto e sincero demais costuma ser interpretado como agressividade. É outra constatação empírica.
- "Esse negócio de não ter tempo não existe não": sempre achei que falta de tempo fosse coisa subjetiva. Agora eu tenho certeza disso.
Por hora lembrei desses. Mas quando lembrar de outras pérolas da sabedoria paternal, postarei. E depois vou dedicar também um post aos (fantásticos) jargões hispanicos de mi mamá. Gente grande não é tão chata assim, sabia? De vez enquando eles são muito divertidos, até.
domingo, 20 de maio de 2007
As Rixas Alheias
Um pequeno protesto contra os absurdos cotidianos
Eu tenho a teoria de que toda loira nariguda parece com minha amiga Flor: de Suzane Von Richtofen a Barbara Streisand. Acontece que a Luana Piovani não é nariguda. E é realmente loira, não tem cabelo castanho claro, avermelhado, meio loiro, meio burro-quando-foge como o da Flor. Enfim, ela não parece com a Piovani. Agora avalie você o quão bêbado estava um homem que pensou que a menina REALMENTE fosse atriz. Seria engraçadíssimo, se o tal bêbado não fosse um fã fervoroso do Caetano Veloso, a quem a moça chamou recentemente de "Banana de Pijama". Contemos o causo. Estavam Flor e um amigo num dos bares da Roosevelt quando o bêbado apareceu. Berrando, tentando arranjar briga com qualquer um e o tempo todo olhando para ela. E depois de um tempo, ele realmente estava assustando minha amiga, que não se acalmava nem com as garantias de segurança do amigo. Bêbado: Você não acha o Caetano Veloso demais? Ela responde que que sim, mexendo a cabeça. Bebado: O Caetano é foda. Ele não come qualquer uma, não, sabia? Você soube da música? Luana Piovani... que porra de Luma Piovani porra nenhuma... E caiu numa gargalhada convulsiva. Aliás nesse momento, o bêbado quase caiu literalmente. Depois de se apoiar na parede e recuperar o equilíbrio, o bêbado se apoia na mesa e tenta pegar a latinha de Guaraná que Flor bebia. Bêbado: Que é isso? Amigo da Flor: Tira a mão daí. Bêbado: Você, menina, é uma vagabunda. É isso que você é: uma pu-ti-nha. Caetano é foda! Ele não faria música nenhuma pra uma atrizinha de merda. Ele... ele ficava com todo mundo antigamente. Ele já amou o Zé Celso. O Zé Celso não é foda?! Flor (com voz quase sumida e coração quase saindo pela boca): Am... aham. E o bebum apontava o dedo para a cara da menina. Enquanto isso, o amigo da Flor fazia, com as mãos, uma barreira entre ela e o bêbado. Bêbado: O Caetano era um tarado. Pra ele comer uma mulher, tinha que ser uma mulher fodona. Ele amava o Zé Celso. E uma atrizinha de merda da Globo não trabalha com o Zé Celso. O Caetano escreveu música pro Zé Celso. Mas porque ele é bom. Não é uma vagabundinha larga aí, não. E Bate na mesa. A essas alturas, Flor já estava completamente murcha. Quase virando adubo. E eis que o bêbado tenta partir para cima dela. Mas apenas tenta, porque o heróico amigo de flor levanta e usa uma voz um tanto quanto incisiva ao pedir ao bêbado que se retirasse. Mas o bêbado continua falando todo tipo de coisa sobre a vida sexual do Caetano Veloso, Zé Celso, Gilberto Gil, toda a galera da tropicália e da Contracultura brasileira. E também continuava supondo muita coisa a respeito da vida sexual e profissional da Luana Piovani. Então eis que ele sai do bar, espantado pelo amigo de Flor. Quase chorando, quase caindo mas ainda xingando. Bêbado: Sua vagabunda! Você tem sorte que eu sou um covarde e não vou te dar o que você merece por causa desse cara... Depois falou algo tão enrolado que não foi possível inteligir. Mas foi embora. Amigo da Flor: Não acredito que encostei nesse cara! Preciso lavar as mãos. Como ele fedia, meu! Flor: Fedia, tinha bafo e quase me mata de medo! |
Depois disso, ainda foi possível ouvir o bêbado cantando "Catia Flávia" pelas ruas...
domingo, 1 de abril de 2007
Surdez
Eu (cantando): "Sou um vento norte-americano forte, com um brinco de ouro na oreeeelha"... Minha irmã: Oxe, bicha doida! É "negro", e não "vento". Eu: Não é! É vento! Minha irmã: Mas é teimosa... põe o cd e ouve. E a música começa. A letra diz (Sr. Google garantiu): "Eu sou o preto norte-americano forte com um brinco de ouro na orelha" Minha irmã: Tá vendo?! Eu: Tô. É "vento" Minha irmã: Mas é teimosa... é "NEGRO". Sr. Google me fez concluir que eu e minha irmã estamos meio surdas. |
domingo, 25 de março de 2007
Sobre o Grão de Bico
Especialistas em agrobusiness deram para falar que o futuro da economia está na soja. Bobinhos. Eu falo: o futuro não está na soja, mas no grão de bico. É tudo uma questão de tempo. Até porque a moderníssima tecnologia em genética vegetal ainda pode turbinar essa comidinha tão gostosa e que (pasme!) proporciona uma grande sensação de bem-estar. É... os entusiastas da culinária do Oriente Médio já sabiam que depois de um belo sanduíche de falafel e algumas pitas com homus todo mundo fica rindo a toa. Muito inocentes, eles sempre acham que comeram demais e estão meio "bêbados por excesso de comida". Não é nada disso: grão de bico (e sobretudo o homus) dá baratinho mesmo. É científico!
A equipe do Dr. Zohar Keren, especialista em alimentação e do botânico Simja Lev Idon, chefe do curso de botânica da Universidade de Jerusalém garantiu que é verdade! Eles comprovaram que o grão de bico contém um aminoácido conhecido como triptofeno que, em grandes quantidades, é capaz de produzir serotonida. É aí que mora a felicidade: esse tal aminoácido e a famosa serotonina são os ingredientes básicos do Prozac. É daí que vem a sensação de calma e felicidade que os adoradores do falafel com tahina e pita com homus sempre sentem.
Agora uma boa notícia para as boas moças casamenteiras e loucas por crianças: um bom prato de homus contribui para a ovulação e assim facilita a gravidez! Assim disse o dr. Abi Gofer, arqueólogo (!!!!!!!!) que fez parte da pesquisa. Então já dá para pôr aquele Santo Antônio na sua posição normal, jogar fora o cartãozinho de Santo Expedito, dispensar a brachá do rabino e o banho na mikve com a rabanit, bem como desmarcar aquele médico. É só correr para o restaurante árabe mais próximo e enfiar o pé na jaca. Um dia ainda vão inventar um pró-concepcional com insumo baseado no grão de bico. I tell you this.
Mas voltemos ao futuro da economia mundial. O grão de bico gera milhões de dólares nos países onde é largamente consumido. E, dizem as más línguas, que a espécie cultivada possui mais serotonina que a selvagem. Fantástico, não? A solução para os problemas do grandes produtores mundiais de commodities está na sugestão do professor Gofer: turbinar o grão de bico com mais serotonina. Aumentaria as vendas em bilhões. Quiçá isso poderia até ser a solução dos dependentes de anti-depressivos e drogas em geral, não? Ah sim... e o tal pró-concepcional que eu imaginei também movimentaria bastante dinheiro para a indústria farmacêutica.
Talvez resida no grão de bico até mesmo a solução para os problemas políticos do Oriente Médio. Afinal... gente nervosinha esses árabes e esses israelenses, não?! Deve ser tudo culpa da assimilação. O pessoal quer adotar um american-or-european way of life e assim abandona o consumo de comidinha tão gostosa e tradicional como o homus, receita que figura no cardápio regional há mais de 10 mil anos. Antigo, não?