quarta-feira, 21 de julho de 2010

Cantando em Serviço



Chico canta: Como beber dessa bebida amarga? Tragar a dor, engolir a labuta? Mesmo calada a boca, resta o peito...

Caetano rebate: Você não está entendendo quase nada do que eu digo. Eu quero ir-me embora! Eu quero é dar o fora!

Chico continua: Todo dia eu só penso em poder parar. Meio-dia eu só penso em dizer “não”. Depois penso na vida prá levar e me calo com a boca de feijão...

Kátia lamenta: Não está sendo fácil viver assim...

Jamil surta, levanta-se e abandona o trabalho: Chau! I have to go now...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A vida secreta softwares de edição de texto

Tudo corria tranquilamente na pasta de caracteres de um software de edição de textos. Fim de sexta-feira: os processadores já estavam relaxando. Mas apesar desse contexto, a senhora Helvetica estava preocupada. Ela aborda uma jovem fonte que acabava de ser salva naquele diretório e a convida para um café:

Helvetica: Tem um assunto me afligindo... posse te perguntar uma coisa?

Nova fonte: Claro...

Helvetica: Você tem namorado?

Nova fonte: Tenho.
(Hein?!)

Helvetica: Ha quanto tempo vocês estão juntos?
(Melhor comer pelas beiradas. Vai que eu assusto a menina...)

Nova fonte: Hmmm... bastante. Uns 2 anos e meio.
(Onde ela quer chegar com isso, gente?)

Helvetica: E você vai muito na casa dele?

Nova fonte: Vou, ué...
(Que papo estranho! Medo!)

Helvetica: Isso que eu queria entender: por que você vai lá?

Nova fonte: Porque é perto de casa. É caminho pra casa na volta do trabalho, por exemplo. Se fosse longe, eu pediria pra ele ir lá em casa. 
(Eu, hein...)

Helvetica: Ai, é porque a Verdana...

Nova fonte: QUEM?!

Helvetica: A Verdana, minha filha que tem a tua idade...

Nova fonte: Ah tá. Verdana, claro... Que nome... bonito.
(Mas que porra de nome é esse?!)

Helvetica: Minha filha atravessa a cidade todo dia, debaixo de chuva e trânsito pra ir na casa do namorado. Perguntei pra ela por que e sabe o que ela disse?! Que era porque lá ela tinha mais liberdade para transar com o namorado. 

Nova fonte: Poxa vida...
(Que assunto constrangedor! Não acredito que eu estou ouvindo isso! Tem que passar alguém por aqui pra cortar o assunto. Passa, por favor... Fezes! Não vai passar ninguém, pô?!) 

Helvetica: Não entendo por que ela falou isso. Eu sei que os jovens de hoje em dia transam cedo e tudo, mas eu não entendo...

Nova fonte: Hmmm...
(A menina já falou que transa com o cara, e que vai lá por que se sente mais a vontade. Ok. O que mais essa senhora precisa entender?!?! E outra: 24 anos é "cedo"?! Ui!)

Helvetica: Por que ela precisa ir tão longe? Por que ela não chama ele pra ir em casa? Eu não me sentiria muito bem, mas ela pode ficar com o namorado, por exemplo, quando eu for sair com meu marido, né? Não entendo por que ela não se sente a vontade em casa! Por que? Me fala fala, você que tem a idade dela!

Nova fonte: Ah... sei lá... cada um tem um tipo diferente de relação com os pais e com namorados, né? Tipo... evangélicos, judeus e islâmicos mais ortodoxos e até católicos tipo os da TFP, por exemplo, transam só depois do casamento...
(Sei lá, pô! A casa é tua! Coitada da Verdana, gente! 
Ai, tia! Libera o Word pra menina! Só diz pra ela instalar o anti-vírus e o corretor ortográfico. Também aconselhe a moça a não salvar nada)

Helvetica (irritada): Ah, mas você já viu que não é o caso, né?! Por exemplo: você transa com seu namorado?
(Essa menina quer me enrolar!)

Nova fonte: HÃ?!?!?!?!?! Hmmm... é... eu... Hã?! O que foi mesmo que a senhora perguntou?
(Como assim?!?!?! Ela não tá me perguntando isso! 
Ah! Ouço passos! Graças a Deus! Chega logo, seja lá quem for! Esse papo tá tomando um rumo cada vez mais constrangedor!)

Salva pelo gongo! O salvador da pátria, sr. Times New Roman, chegou na sala do café e começou a falar de trabalho. 


domingo, 30 de maio de 2010

Notícia que não sairia no jornal

Sete horas. Toda manhã de dia útil, Maria Qualquer estava lá no viaduto da rua Pedroso, na calçada oposta à do albergue de mendigos. Ela olhava a 23 de Maio engarrafada. Toda manhã. Sempre no mesmo horário, sempre com o mesmo olhar, sempre do mesmo ponto, sempre na mesma posição.

Uma manhã qualquer, as sete da manhã, Maria espreitava, como sempre,  a 23 de Maio congestionada. Do mesmo ponto do viaduto da Rua Pedroso, mas em posição diferente: sentada na grade, pernas balançando em direção à avenida lá em baixo e os "olhos embotados de cimento e lágrima". Transeuntes paravam, olhavam e não diziam nada. Apenas um par de moças comentou:

"Que horror! Acho que ela vai pular. Eu ajudaria, mas não dá por que senão me atraso para o trabalho".

E todos os que estavam parados ouviram. Alguns olharam para o relógio, outros só saíram. E tudo correu normalmente durante o horário de rush no metrô São Joaquim, no ponto de ônibus, nas lojas, no McDonnald's e - quiçá - nos hospitais da região.

E o trânsito na 23 de Maio? Continuou carregado. Mas ninguém soube ao certo se Maria Qualquer chegou a cair na contramão atrapalhando o tráfego. Tem coisa que não sai no jornal. O fato é que ela nunca mais apareceu por lá.

sábado, 24 de abril de 2010

Monetarizando e Erotizando

É digno de piada (ou lástima?), mas estava na home de um grande portal um dia desses. "Capital Erótico: você sabe o que é? Sabe se tem?" E lá estava uma foto de Carla Bruni ao lado de Michelle Obama (essa mesma que está aí do lado). Aliás, a primeira linha do artigo já dizia que o presidente dos EUA tem capital erótico.

Mas o que é isso, afinal? É um termo que Catherine Hakim, pesquisadora de sociologia da Escola de economia de Londres, cunhou para referir-se a uma "combinação de atração física e social nebulosa, mas crucial". E tudo se resume aí. O capital erótico - este importante "ativo pessoal" - inclui além da beleza, o sex appeal, o charme e as habilidades sexuais. E esse capital é, segundo a intelectual da nossa época, um dos mais importantes atributos que uma pessoa (especialmente se for mulher) pode ter. É uma questão de lei da oferta e da procura: falando em bom português, a cultura é sexualizada, as pessoas transam mais e valorizam mais quem parece ser melhor na cama.

O mais interessante é que existem pesquisas a respeito. A teórica cita que "há uma diferença de 25 pontos percentuais em ganhos médios entre as minorias de pessoas atraentes e não atraentes. Esse impacto pode ser tão grande quanto o vão entre ter um diploma ou não ter qualquer qualificação – apesar de estar bem abaixo da inteligência como determinadora dos resultados da vida. "

Seria isso verdade? Mentira? Só machismo mesmo? Sexismo que ultrapassa as fronteiras do gênero? O fato é que esta é uma teoria na mesma linha daquela que diz que pessoas com nomes incomuns se dão melhor na vida. Elas ignoram uma série de processos sociais (e até a tal da "concentração de renda"). Mas isso é outra história.

De qualquer modo, é importante pensar em um ponto: desprovidos de qualquer conceito ou código moral estruturado o suficiente para se sobrepujar à importância da aparência, sobra alguma coisa além da beleza?

Deixo meus gatos pingados (leitores) com o link do artigo (o problema é que é só para assinantes do portal): http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/prospect/2010/04/19/capital-erotico-voce-sabe-o-que-e-sabe-se-tem.jhtm

sábado, 27 de março de 2010

Inventivas e Inovadoras dicas de Segurança dos Habitantes da Urbe


Sábado, por volta das 4h da tarde. Trecho entre as estações São Bento e Paraíso, mais uma vez no metrô paulistano. Uma moça e um rapaz entram no trem desviando das milhares de sacolas e pessoas que voltavam das compras na famosa 25 de Março. Acomodam-se perto da porta fechada e começam um diálogo que é, no mínimo, de utilidade pública.

Moça: Pois é. Trabalhar aqui no centro é super complicado, por que você vem toda bonitinha e bem vestida pra empresa, mas na hora de ir embora fica morrendo de medo de sair na rua. Sobretudo pra vir pro metrô. A partir das seis horas, fica cheio de trombadinha, bêbado, nóia...

Moço: Ah sim. Pra roubar bolsa, celular... Mas como você faz pra voltar?

Moça: Então... eu sempre voltava com uma amiga que mora perto de casa. A gente pegava o ônibus juntas, ali perto do Anhangabaú. Mas como ela entrou de férias esse mês, agora eu tô voltando pra casa de metrô.

Moço: Ué, mas você não falou que tem medo?!

Moça: Então, menino! Desenvolvi uma técnica pra ir tranquila pro metrô. Um dia eu tava saindo do trabalho mais tarde e não tinha ninguém pra ir comigo aí eu tava na rua e resolvi bancar a doida. Cheguei na rua comecei a chacoalhar o guarda-chuva e gritar: "Eu quero é que alguém venha aqui tentar me assaltar! Eu quero, porque eu tô louca pra pegar um... Vou bater! Vou bater até arrancar sangue!". Meu, o pessoal começou a se afastar de mim. Abrir alas, sabe? Aí eu vi que tava funcionando e continuei: "Eu quero! Se alguém chegar perto eu arrebento! Não gosto de ladrão! Vou bater até matar!". Fui gritando e gesticulando até a estação. Funciona, viu? Ninguém chega perto de mim da Praça do Patriarca até aqui.

Moço: Não acredito! Você tá fazendo isso todo dia?!

Moça: Tô.

Moço: Meu, como assim?! Você não tem vergonha de...

Moça: De não ser assaltada?! De não apanhar gratuitamente de nóia?! Eu não! Eu sei que a minha estrutura psicológica tá super bem, então não tenho problema nenhum em fingir de louca.

Particularmente, adorei a idéia. Ficou a dica. Quando for necessário, certamente farei o teste.


quarta-feira, 3 de março de 2010

Discovery Subway


O melhor da cultura pop atual dentro do transporte público.

Trecho entre a estação Sé e Marechal Deodoro, linha vermelha do metrô. Eram sete horas da manhã quando duas moças e um rapaz conversam. Enquanto isso, uma intrometida qualquer escuta o colóquio alheio:

Moça 1: Com todos esses problemas de aquecimento global, programa nuclear do Iraque e tal, todo mundo vai morrer. Vai ser que nem naquele filme, o 2012.

"Iraque fazendo programa nuclear? Será que ela quer dizer Irã?"

Moça 2: E vocês sabiam que esse negócio de 2012 é de verdade? Uma lenda asteca diz que o mundo vai acabar em 2012, no calendário deles. Vai acontecer que nem na vira de 99 pra 2000: uma pá de gente vai se matar, achando que o mundo vai acabar.

Rapaz: E ainda tem uns cara que mandam a galera se matar. Que nem aquele Inri Cristo dos EUA: mandou os cara se matar e eles se mataram. Aí depois, quando virou o ano pra 2000, foi pedir desculpa.

"INRI CRISTO DOS EUA?! Inri Cristo virou franquia ou tem modelo exportação?!"

Moça 1: É, mas dá medo mesmo é a bomba do Iraque. Se aquele presidente soltar as bombas, só vai sobrar as baratas. Vocês sabiam que só as baratas conseguem sobreviver a uma bomba atômica?

Rapaz: Duvido! Porque por mais que a bomba em si não faça mal, e se os prédio e as pessoas caírem em cima delas e esmagarem as cabeças?

Moça 2: Elas continuam vivas! Eu vi no Discovery Channel que as baratas vivem até 7 dias sem a cabeça.

E na estação Marechal Deodoro o trio desceu.

OBS: eventuais erros gramaticais se fazem presentes em prol da fidelidade ao jeito zé-trenzinho de falar.