domingo, 6 de abril de 2014

Mendigo do Amor

Sete horas da manhã. A caminho do trabalho, ela é abordada pelo mendigo sentado na calçada de uma avenida cartão postal da cidade. Ele se preparava para mais um dia de trabalho (a mendicância, no caso) com um sorriso que não se vê no rosto de nenhum engravatado, ou mesmo de ninguém com vestes mais casuais nos ônibus, carros, metrôs, motos, etc.

- Oi, menina! É você mesma?!
- Oi! Sou eu sim! Como o senhor tá?
- Tô bem, graças a deus! Correndo pra trabalhar?
- Pois é, né? Tô.
- Eu também... hahaha... Por aqui mesmo. Trabalho de casa.
- Aí eu vi vantagem...
- Menina, cê é a namorada nova do Jards, é?
- Namorada nova?! Pô, cara, eu nem sabia que ele tinha terminado com a antiga... Mas em todo caso, eu não sou, não.
- Ah, se ele ainda não terminou com essa mulher dele, devia terminar e te pegar logo.
- Hahahaha... Porra, como assim?! Deixa ele com a mulher dele!
- Olha aí! Mulher bonita, gente fina, sem frescura... Pelo tanto de óculos diferente que cê anda por aí, deve ser artista ou intelectual que nem ele, né?
- Ih, sou nada... E só tenho três óculos.
- Te acho melhor que a namorada que ele tá agora.
- Mas, vem cá, cê conhece a namorada dele pra falar isso?
- Não.
- Então! Se eles tão juntos, ela deve ser bacana, né?
- Mas tu gosta dele, que dá pra ver...
- Gosto sim. Muito. É um amigo bem querido.
- Ih... tá se fazendo de burra, mas tá vermelha... Cês já devem até ter se pegado.
- Não! Pára com isso, pô! Não quero ficar com o Jards, não.
- Por que, ué?
- Porque eu não tenho tempo pra nada. Nem pra ter mais uma coisa no que pensar. Aliás... vou correr lá porque eu não trabalho em casa como o senhor, né? Tchau, até mais.
- Vai com deus, fia.
- O senhor também.