domingo, 30 de maio de 2010

Notícia que não sairia no jornal

Sete horas. Toda manhã de dia útil, Maria Qualquer estava lá no viaduto da rua Pedroso, na calçada oposta à do albergue de mendigos. Ela olhava a 23 de Maio engarrafada. Toda manhã. Sempre no mesmo horário, sempre com o mesmo olhar, sempre do mesmo ponto, sempre na mesma posição.

Uma manhã qualquer, as sete da manhã, Maria espreitava, como sempre,  a 23 de Maio congestionada. Do mesmo ponto do viaduto da Rua Pedroso, mas em posição diferente: sentada na grade, pernas balançando em direção à avenida lá em baixo e os "olhos embotados de cimento e lágrima". Transeuntes paravam, olhavam e não diziam nada. Apenas um par de moças comentou:

"Que horror! Acho que ela vai pular. Eu ajudaria, mas não dá por que senão me atraso para o trabalho".

E todos os que estavam parados ouviram. Alguns olharam para o relógio, outros só saíram. E tudo correu normalmente durante o horário de rush no metrô São Joaquim, no ponto de ônibus, nas lojas, no McDonnald's e - quiçá - nos hospitais da região.

E o trânsito na 23 de Maio? Continuou carregado. Mas ninguém soube ao certo se Maria Qualquer chegou a cair na contramão atrapalhando o tráfego. Tem coisa que não sai no jornal. O fato é que ela nunca mais apareceu por lá.

Um comentário:

Anônimo disse...

dar seus pulos às vezes não resolve.